samedi 6 juin 2009

MENSAGEM DE D. A. VITALINO DANTAS PARA O DIA DE PORTUGAL, DE CAMÕES E DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS

Nesta semana não vou reflectir sobre acontecimentos do passado, mas pretendo apresentar alguns pontos de vista sobre o DIA DE PORTUGAL, DE CAMÕES E DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS, que celebramos no dia 10 de Junho.
Já se tornou uma rotina celebrarmos dias e anos dedicados às mais diversas causas nacionais e mundiais. Mas na celebração do Dia de Portugal, a 10 de Junho, data da morte do grande cantor épico das glórias de Portugal, Luís Vaz de Camões, além de realçarmos a nossa identidade nacional, alargamos as comemorações ao autor dos Lusíadas e às comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, pois são elas as continuadoras daqueles que por mares nunca de antes navegados passaram ainda além da Taprobana, como cantou Camões acerca dos nossos descobridores.
Na verdade, cerca de um terço dos portugueses, uns cinco milhões, está espalhado pelos cinco continentes, muitas vezes organizados em comunidades significativas e orgulhosas do nome, da língua e da cultura portuguesa. São os grandes embaixadores de Portugal, que, nada custando ao erário público, ainda o enriquecem com as suas remessas, contribuindo para construir e afirmar Portugal no mundo. Mas não é apenas o aspecto económico e financeiro que nos interessa, mas sobretudo o contributo dos nossos emigrantes em tornar o mundo uma pátria comum, onde nunca nos sentimos estrangeiros.Diz-se que Deus criou o mundo e as diferentes raças, mas os portugueses criaram os mestiços. A mestiçagem é um fenómeno que muito contribuiu para ultrapassar as divergências e lutas racistas, dando origem à afirmação da unidade do género humano, onde não há raças superiores e inferiores, senhores e escravos, mas semelhantes, próximos, irmãos.

Mas esta mentalidade fraterna tem dificuldade em espelhar-se em todas as dimensões do ser e da acção de todas as pessoas e sociedades, também no que diz respeito às relações económicas e financeiras. Ainda há uns que são mais iguais que outros.
Precisamente aqui intervém a fé dos cristãos, radicada na fé bíblica, sobretudo na pessoa de Jesus de Nazaré, que fez do amor ao próximo, sem acepção de pessoas, com especial atenção aos doentes e aos pobres, sacramento, sinal do amor e do conhecimento de Deus. O grande apóstolo S. Paulo, a quem a Igreja dedicou um ano, desde 29 de Junho de 2008 até à mesma data do corrente ano, recordando os dois mil anos do seu nascimento, escreve várias vezes nas suas cartas de que diante de Deus não há judeu nem grego, senhor e escravo, estrangeiros e emigrantes, mas concidadãos do Reino de Deus (Ef 2, 19).
Tendo em conta este ano Paulino, o Papa Bento XVI dedicou a sua mensagem para o Dia mundial do migrante e refugiado a S. Paulo, visto como migrante e apóstolo das gentes, isto é, de todos os povos além fronteiras e limites do seu povo. Ele tornou visível a mensagem universalista e humanitária de Jesus, confrontando-se com mentalidades nacionalistas, fechadas, farisaicas. Isto transmitiu-nos na sua acção missionária e nos seus escritos, que bem podemos considerar a magna carta dos direitos fundamentais do homem e da liberdade religiosa.
Na sequência desta mensagem papal, a Igreja portuguesa irá celebrar toda uma semana dedicada aos migrantes, de 9 a 16 de Agosto e uma peregrinação internacional a Fátima, a 12 e 13 do mesmo mês do corrente ano, dando-lhe como tema: “viver o amor fraterno sem distinções nem discriminações”. Como diz um ditado do nosso povo, “água mole em pedra dura tanto dá até que fura”, também eu acredito que estas repetições, estes slogans, escritos, proclamados e explicados acabarão por penetrar nas nossas mentalidades e influenciar todas as dimensões do nosso agir. Sabemos que ainda há um longo caminho a percorrer, mas não podemos calar, esconder esta verdade, sobretudo em tempos de crise, humanitária mais que financeira. Enquanto não tirarmos as conclusões deste ideal evangélico e bem presente na nossa cultura e entre os nossos emigrantes, não teremos paz e não conseguiremos ultrapassar as crises.
Por isso, no dia 10 de Junho deste ano, como bispo de Beja e também Presidente da Comissão episcopal da Mobilidade Humana, aqui deixo este apelo aos meus diocesanos e a todos os nossos emigrantes espalhados pelo mundo, para que não esmoreçam na construção duma sociedade mais fraterna e mais universalista, tornando-se arautos e missionários desta maneira de ser e de estar que tornaram grande o nome de Portugal.
Não quero terminar esta breve nota sem mencionar um outro personagem que mais que ninguém contribuiu para a definição da nossa identidade e unidade nacional: Nuno Álvares Pereira, o Santo Condestável, a 26 de Abril proclamado santo da Igreja universal como S. Nuno de Santa Maria. Foi um homem de visão clarividente e heróico na defesa dos seus nobres ideais, que se identificavam com os da pátria e do seu povo, sempre inspirado no Evangelho, em Jesus Cristo e também sempre confiado na protecção de Maria.
Ao mesmo tempo agradeço a todos os que estão bem na vida e aos emigrantes mais integrados nos países onde se encontram, para que continuem a ser solidários com os novos emigrantes e os pobres, que debandam outras terras à procura de melhor governo... da vida.
Com amizade, extensiva hoje de modo especial a todos os nossos emigrantes, mas também aos imigrantes a residir e trabalhar no nosso pais, despeço-me sempre ao vosso dispor.


† António Vitalino, Bispo de Beja

Aucun commentaire: