mercredi 13 mai 2009

SÃO NUNO DE SANTA MARIA (NUNO ÁLVARES PEREIRA)

Desde o passado dia 26 de Abril, Portugal tem um novo santo: São Nuno de Santa Maria, conhecido na vida civil como Nuno Álvares Pereira. Vem juntar-se a outros santos nascidos em Portugal ou que fizeram do nosso país a sua pátria: São Teotónio, Santo António de Lisboa, a Rainha Santa Isabel, São João de Deus, São João de Brito, Santa Beatriz da Silva…
Às virtudes da sua longa vida, acrescenta-se o facto do seu nome estar intimamente ligado à História de Portugal, à independência e à consolidação da nacionalidade, em particular na decisiva e famosa batalha de Aljubarrota (em 1385).


Percorrendo a sua vida
Nascido a 24 de Junho de 1360, em Cernache do Bonjardim (actual distrito de Castelo Branco), filho de D. Álvaro Gonçalves Pereira e de D. Iria Gonçalves de Carvalhal, Nuno Álvares Pereira foi dos portugueses que mais profundamente marcaram a história do nosso país. O papel fundamental que teve na referida batalha de Aljubarrota fez dele um verdadeiro herói nacional.
Nesse dia 14 de Agosto de 1385, num descampado perto do lugar onde se ergueu mais tarde o Mosteiro da Batalha, o nosso «Condestável» comandou um exército de 6 mil homens (os portugueses ajudados por algumas tropas inglesas) e derrotou um exército espanhol 5 vezes superior em número (as tropas de Castela atingiam os 30 mil homens). Portugal percebeu, então, que ficava a dever a sua independência a esse homem corajoso e, ao mesmo tempo, profundamente cristão (os «amigos» censuravam o tempo que ele estava de joelhos a rezar, antes de cada batalha, achavam que era tempo perdido…).

Antes, porém, em 1377, com a idade de 17 anos, Nuno Alvarez Pereira tinha desposado Leonor de Alvim, de quem teve 3 filhos. Apenas a sua filha Beatriz, que casaria com D. Afonso, lhe dará netos, dando origem à famosa Casa de Bragança, a dinastia que reinará em Portugal após a restauração da independência de 1640 (ainda hoje os que se reclamam «herdeiros» da coroa de Portugal, se intitulam da Casa de Bragança, cuja sede é o Paço Ducal de Vila Viçosa, no Alentejo).

Após a morte de sua mulher, Nuno Alvarez Pereira tornou-se irmão carmelita (entrou na Ordem do Carmelo no ano de 1423, no Convento do Carmo em Lisboa, que ele próprio mandara construir). Ele, que era tão devoto de Nossa Senhora, toma o nome de Irmão Nuno de Santa Maria. Aí permanecerá até à morte, ocorrida em 1 de Abril de 1431 (dia de Páscoa), com 71 anos incompletos. O seu túmulo foi destruído pelo Terramoto de 1755, que danificou profundamente o Convento do Carmo, como aliás se pode comprovar ainda hoje.

O título de «Condestável do Reino» foi-lhe concedido pelo Rei devido aos seus méritos na guerra de 1385 entre Portugal e Castela. No Arquivo da Casa de Bragança existia, até ao terramoto de 1755, o diploma original no qual o Mestre de Avis, D. João I, lhe concedia o título de «Condestabre» e, para lhe agradecer, o rei fez-lhe também a doação do Condado de Ourém e de outras terras nomeadas.O título «Condestável» era dado àquele que comandava as tropas logo a seguir ao Rei, substituindo-o na sua ausência! Portanto, era a segunda figura mais importante da nação!

O Santo do Povo
O povo português logo o considerou “santo”, chamando-lhe «Santo Condestável». Sabe-se que o rei D. Duarte pediu que se organizasse o processo da sua canonização logo em 1437, ou seja, apenas seis anos após a sua morte. A verdade é que, tanto D. Duarte como os irmãos, tomaram a sério o processo de canonização do condestável. Para prová-lo, possuímos uma cópia de um documento do cronista-mor do reino, Gomes Eanes Azurara, onde são elencados os milagres atribuídos à sua intercessão.

Em relação ao culto ao Santo Condestável, existem relatos não só da sua vida virtuosa, mas também dos altares e das imagens que lhe eram dedicados, das missas que se celebravam em sua honra, das trasladações das suas relíquias, das peregrinações ao seu túmulo, e das muitas graças e milagres que eram atribuídas à sua intercessão. Perante tais relatos pensou-se logo em obter do Papa a confirmação deste culto pela beatificação e canonização.

Mas o processo não teve o andamento desejado e, só vários séculos depois, em 1894, o então Cardeal Patriarca, D. José Sebastião Neto, nomeou juiz da causa a D. Manuel Baptista da Cunha, futuro arcebispo de Braga. Alguns anos depois, foi enviado o processo para Roma e o papa Bento XV, pelo decreto «Clementissimus Deus», a 23 de Janeiro de 1918, confirma o culto prestado a Nun’Álvares, proclamando-o Beato. Em todas as dioceses portuguesas começa então a celebrar-se a sua festa litúrgica no dia 6 de Novembro, com o título de Beato Nuno (aliás, deverá continuar a ser esse o dia de festa do novo Santo).

O Santo da Igreja Universal
O processo de canonização do Beato Nuno foi reaberto a 13 de Julho de 2003, nas ruínas do Convento do Carmo em Lisboa e a 1 de Maio de 2004, nas comemorações dos 150 anos do Dogma da Imaculada Conceição, o Santuário de Vila Viçosa recebeu as relíquias do beato.
A notícia esperada surgiu a 21 de Fevereiro deste ano 2009, quando Bento XVI anunciou a canonização do “Condestabre”. Um caminho longo – cerca de 578 anos - que culminou, a 26 de Abril de 2009, com a inscrição de Nuno Álvares Pereira no álbum dos santos.

Ao apontar as razões da santidade de Nuno de Santa Maria, o papa Bento XVI aponta quatro aspectos da sua vida cristã, que são dignos de exemplo e imitação:
1. A sua vida contemplativa: São Nuno não se limitou a ser um homem de acção; soube também desenvolver no seu íntimo a Contemplação de Deus e das suas criaturas;
2. O seu amor à Eucaristia: São Nuno foi um homem que viveu da Eucaristia; era à Comunhão que ele ia buscar a força e a graça para viver como cristão.
3. A sua grande devoção a Nossa Senhora: quando se fez religioso, Nuno Álvares Pereira adoptou, como era costume, o nome de «Nuno de Santa Maria»; vários testemunhos atestam como era grande a sua devoção à Mãe do Salvador.
4. Finalmente, a sua caridade e humildade. Sendo o homem mais rico de Portugal, fez-se pobre por amor a Deus e aos irmãos. Ia ele próprio em pessoa socorrer os pobres e os doentes que vinham ao seu encontro ou que ele procurava nas ruas da cidade! Até a pensão que o rei lhe concedia, distribuía-a ele pelos necessitados!

São estas as grandes razões por que Dom Nuno foi declarado Santo. Saibamos ter nele um intercessor e um exemplo e, assim procedendo, viveremos como ele a alegria de sermos cristãos.


Pe. José Anastácio Alves

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